quarta-feira, março 28, 2007

Em pequeno meu sonho era quebrar o braço. Achava a tala de gesso um ornamento tão vistoso quanto um brinco de pérolas ou um colar de diamantes, tivesse eu uma namorada aos 10 e seria isso que eu daria a ela de presente de aniversário.

Falo em desejos inusitados e já volto a eles.

Dentre as novas regras do condomínio, uma delas diz que, após meia-noite o porteiro deve sair de sua guarita e pessoalmente abrir o portão do edifício (fato que não chega me incomodar, uma vez que costumo fazer uso da garagem e não da portaria). Mas enfim, semana passada, não me recordo se terça ou quarta-feira (sim, foi na quarta, o Galo jogou), voltei de carona pra casa e tive que entrar pela portaria. Toco o interfone. O porteiro, por ser novo no edifício, desce com ar desconfiado. Olho a fisionomia do sujeito, em seguida noto que ele usa um crachá, olho novamente sua fisionomia e não posso deixar de notar uma certa dessemelhança entre o sujeito da foto e o que se apresenta à minha frente. Esperando o elevador a luz me atinge. “Mas claro”. O sujeito da foto tem cabelo (muito embora não se trate de um cabelo notável, digno de propaganda de condicionador, ele está lá) e o porteiro é careca. A simples opção do sujeito por colocar uma foto com cabelo no crachá, seja por vaidade, seja por vergonha, já me parece totalmente absurda. A pergunta que me parece pertinente é, quem ele está tentando enganar?

Não consigo entender o pavor crônico que o homem nutre pela calvicie. Lembro-me de um cidadão que trabalhava com minha mãe (salvo engano chamava-se Marquinho), fazia qualquer coisa para reduzir a queda de cabelos, dissessem a ele que passar bosta de cavalo na cabeça era a solução última, ele assim o faria. Juro que não entendo, de todos os apetrechos da cabeça o cabelo me parece o mais dispensável. Se suas orelhas ou nariz fossem cair quando você chegasse aos 40, ok. Se calvicie fosse definida como "a queda progressiva das orelhas" eu entenderia, compraria a idéia, daria toda razão ao sujeito que, aos 27 anos, ficasse triste e amuado por estar parecido com Van Gogh. Chego mesmo a me perguntar se cortar a orelha seria moda entre os mais jovens. Posso até ver o garoto chegando em casa e sendo repreendido pela mãe, “ah, meu filho, mas cortou a orelha de novo?”. Para se ter uma idéia do quanto isso incomoda a população masculina, é só ir ao google e digitar a palavra “calvice”, além de uma infinidade de resultados para a sua busca, haverá LINKS PATROCINADOS, gente que paga para ter o privilégio de colocar seu negócio em destaque quando se trata de queda capilar. Tentem fazer diferente então, ao invés de calvice digitem “lábio leporino”, vocês encontrarão artigos acadêmicos, histórias de crianças que sofrem nas escolas, casos clínicos, mas ninguém está interessado em patrocinar o lábio leporino. Não sei quanto a vocês, caros leitores, mas, de minha parte, preferiria uma mulher careca a uma que tivesse fissura labiopalatal.

E eis a questão essencial, o mito de Sansão, o homem que perde sua força e virilidade juntamente com sua cabeleira. Salvo algumas parcas exceções, o homem só fica careca por volta dos 35, 40, e convenhamos, nessa idade começa a ficar difícil pra qualquer um descolar mulheres. Falo por mim, não por toda classe, mas creio que seja interessante conseguir uma mulher, se assim for desejo do réu, entre os 15 e 45, ou seja, um período de 30 anos, se você tem 35, meu caro, já percorreu mais da metade do caminho, me parece injusto culpar a calvicie, talvez ficar com alguém não seja mesmo seu negócio. Se o sujeito optou, ainda jovem, belo e cabeludo, rolar de buceta em buceta ao invés de ficar com alguém, que viva com sua escolha, mas não culpe a calvicie aos 40. A coisa é ainda mais patológica do que parece, se inventassem um remédio que faz nascer cabelo, mas que por outro lado causasse impotência, não tenham dúvidas, seria um campeão de vendas, pois a verdade é que o sujeito fica mais satisfeito em saber que poderia comer a mulher que, de fato, em comê-la.

E aqui volto aos desejos inusitados.

Sou relativamente calvo, provavelmente ficarei careca, a idéia não me assusta, muito antes pelo contrário, sempre quis ser careca. Aliás, considero a calvicie uma dádiva, pensem bem, Deus poderia ter me dado talidomida, paralisia infantil, apenas um bago, meningite, polidatilia, dentre tantas outras mazelas, e o que ele faz?, me limpa o escalpo, do conjunto da obra ele subtrai aquilo que menos falta me faz. Onde muitos lêem “queda definitiva de cabelo”, eu leio “nunca mais ir barbeiro”.

sexta-feira, março 09, 2007

Hoje tive que levar meu carro na oficina pra alinhar e balancear. Coloquei dois livros na sacola, um pra matar o tempo e outro pra emprestar pro Ronaldo, mecânico da oficina do João. Já havia conversado com ele anteriormente e ele me havia dito que gostava muito de ler.

Chego na oficina e vou falar com o João.

- Tranquilo, João? Movimento já diminui?
- Agora tá beleza, vou falar com o rapaz pra olhar o carro pra você. Ô, RONALDO, ALINHAMENTO E BALANCEAMENTO AQUI DO UNO.

Acendo um cigarro e fico esperando o Ronaldo terminar qualquer coisa que ele esteja fazendo, então ele vem ter comigo.

- Opa, bão?
- Beleza, cara. Seguinte, trouxe esse livro aqui pra você, não sei se você já leu.
- Não, já ouvi falar muito, mas ainda não li.
- Vale a pena, vai se divertir um bocado.
- Mas eu tô acabando de ler um livro, "Germinal", tem problema?
- Não, nenhum, sem pressa pra devolver.
- Legal.
- Pérai, você tá lendo Germinal?
- É...
- Èmile Zola, é isso?
- É.

Na hora quase gargalhei. Meu mecânico lê Zola. Estudei a vida inteira no Loyola e coloco não minha mão, mas sim meus bagos no fogo como menos de 10% das pessoas que lá estudaram comigo sabem quem é Zola.

- Já leu?
- Não, já vi o filme. Não tenho muito saco pra naturalismo francês.
- A linguagem é meio pesada, mas eu me coloquei de castigo pra ler. Esses carvoeiros tinham que se revoltar mesmo, muito bonita a história. Além do que dá uma boa visão do período da revolução francesa, mais do que a revolução do povo é o colapso do sistema, né?
- Povo não faz história...
- Então, tô acabando o Pálio, só falta trocar o óleo e voltar o peito de aço pro lugar, chega aí.

E lá fui eu. Ficamos discutindo literatura enquanto ele terminava o serviço. Antes de começar a mexer no meu carro pediu-me licença.

- Excuse me, I'll go get a cigarette, nasty habit...
- Ok.

Assim que ele volta com o cigarro aceso lhe pergunto.

- Why nasty habit?
- Because destroy your...
- Lungs?
- Isso é pulmão?
- É.
- Lungs, ok.
- Ronaldo, você faz aula de inglês?
- Não...
- Aprendeu como?
- Aparece umas palavras no computador e eu procuro saber o que significam.
- Vai te foder, sô, você tem noção de estrutura da língua, passado, presente, não são só palavras.
- Aprendi aí...

Falamos ainda mais de literatura, política Bush, informática ("e por quê esse jogo não roda, Ronaldo?", "não roda porque você usa uma placa de vídeo mx, tem que usar a fx, que vai te dar o número de linhas que você precisa"), além dele ter me dado uma aula sobre suspensão e alinhamento.

E finalmente o serviço estava pronto. No que eu fui acertar com o João.

- Nossa, Thales, o Ronaldo fala até espumar pelo canto da boca.
- É porque eu tenho assunto né, João... - e sai rindo feliz da vida pra tomar um café.
- Isso daí é de uma inteligência que só vendo.
- Eu vi, fiquei conversando com o cara duas horas e pareceu meia hora.
- Então, em 93 eu coloquei um anúncio e ele apareceu aí. Já sabia bem do serviço. Ficou uns dois anos nessa, um belo dia deu pra falar em inglês, eu não entendo nada, mas tenho uma cliente japonesa que fala sete línguas, pedi pra ela ver o que esse menino tanto falava, daí ela me disse que ele aprendeu sozinho, vendo filme. Conserta qualquer coisa, outro dia chegou com o Golzinho dele aqui, tirou o leitor de cd do computador, fez uma gambiarra e instalou no carro, toca até MP3. Inteligência raríssima.
- Caralho...

Depois ainda me perguntam, por exemplo, por que eu não vou ao Café com Letras, simples, porque eu prefiro mil vezes passar meu tempo conversando com o Ronaldo que com qualquer pseudo-intelectual que posa de literato. Falsifica-se de tudo nesse mundo, menos inteligência.

O Carrinho volta a ativa. Retirei o texto sobre o Barcelona daqui e o devolvi a seu lugar de origem.

A pergunta que fica é: por quê cargas d'água o Blogger quer me impedir de continuar postando?

Tive que criar uma conta Google com a finalidade de manter este blog.

Primeiramente tentei acessar minha página no Blogger, o acesso não me foi permitido, fazia-se necessário uma conta Google, ok, sem problemas, uma vez que eles me dão a opção "Criar uma conta Google". Não consegui criar a tal conta. Preenchia todos os campos e eles me mandavam de volta à página que eu deveria estar num primeiro momento para criar uma conta sob a alegação de, "o endereço de mail digitado não existe", mas é CLARO que o endereço não existe, eu estou criando-o agora, COMO ele poderia existir? Desisti do processo e pedi que minha irmã me enviasse um convite para que eu pudesse ter uma conta Google. Finalmente fui bem sucedido e transferi meu blog para minha nova conta.

Quando fui postar no Carrinho sucedeu-se o mesmo. Apelei e de cara entrei com a conta que uso para postar nesse blog. Sucesso. Minto, relativo sucesso, já que eu vou ter a porra de um mail Google, não me parece certo que os demais colaboradores do Carrinho tenham acesso à senha do meu mail, e consequentemente aos spams das punhetas que bato (embora creio que a matéria não seja de interesse de meus colaboradores). Continuando, então tive que criar uma NOVA conta, carrinhonoolho@gmail.com, para que o blog pudesse ter mais colaboradores, envio-me um mail para participar (pela segunda vez) de algo que eu não queria participar num primeiro momento. Agora sim, sucesso, basta preencher os campos obrigatórios para acessar minha NOVA conta. Depois de 40 minutos na frente do PC estou prestes a finalizar minha saga Google, aparentemente basta-me clicar em "Ok" e estará tudo resolvido até que o Google seja vendido a um grupo de investidores e eu tenha que refazer todo o processo novamente, reparem que eu disse "APARENTEMENTE", clico em "Ok" mas minha aplicação não é aceita, rolo a tela para baixo a fim de descobrir qual campo preenchi de maneira inadequada, então descubro que minha senha "carrinho" não foi aceita por ser de pouca segurança, OU SEJA, não bastando o inconveniente de ter que criar DOIS novos endereços de mail, ainda tenho que decorar uma senha quilométrica, por Deus, nem o banco tem tanto cuidado com meu dinheiro. No momento em que estou preenchendo o campo da senha há uma barrinha que vai crescendo, "fraca" (em vermelho), "relevante" (em amarelo) e "muito relevante" (em verde), se a barrinha subiu apenas até o vermelho e eu cliquei em "Ok", eu sei que eu estou furando o sinal, sei que estou optando por uma senha esdrúxula, se é pra ser assim não me façam pensar uma senha, enviem a que vocês acharem mais segura e conveniente pro meu mail que eu fico com ela.